O que significa Onryo? Entenda o termo e sua importância em Ghost of Yotei
Uma lenda milenar do Japão ganha vida no novo game exclusivo de PS5. Confira o contexto por trás do fantasma de Yotei.
Se você acompanhou os trailers de Ghost of Yotei, já sabe que a protagonista Atsu não está apenas em busca de vingança — ela está literalmente virando um pesadelo ambulante. Sua jornada contra os “Seis de Yotei” a coloca em rota de colisão com um dos mitos mais assustadores do folclore japonês: o Onryo, o espírito vingativo.
Mas o que exatamente significa esse termo? E por que ele é tão importante para entender a história e o tom sombrio do jogo? Enquanto nossa review do jogo não sai, confira mais detalhes sobre essa história por trás do mundo do game.
O que significa Onryo em Ghost of Yotei?
A história do novo jogo da Sucker Punch acompanha Atsu, uma mulher que, na infância, teve sua família morta por um grupo de assassinos na região de Ezo, próximo ao Monte Yotei.
Ela acaba sobrevivendo e, com o tempo, se torna uma grande guerreira. Cerca de 16 anos depois da tragédia, ela volta para casa para buscar vingança, matando quem assassinou sua família e ganhando a alcunha de fantasma, ou Onryo.
Antes de mais nada, vale dizer: Ghost of Yotei promete ir muito além de um simples conto de vingança samurai. A transformação de Atsu em uma figura inspirada no Onryo não é apenas estética — é simbólica. A personagem não se disfarça como um fantasma para causar medo nos inimigos; ela se torna o próprio conceito da vingança. E é aí que o mito japonês entra com força total.
O que é um Onryo no folclore japonês
Na tradução direta, Onryo (怨霊) significa “espírito rancoroso” ou “fantasma vingativo”. É um tipo de yūrei, o termo genérico para fantasmas na cultura japonesa, mas com uma diferença crucial.
Enquanto um yūrei pode simplesmente vagar por aí, o Onryo tem um propósito — vingança. Ele é o espírito de alguém que morreu em circunstâncias injustas ou traumáticas e volta para ajustar as contas com quem o fez sofrer.
O conceito é antigo, datando do século VIII, quando acreditava-se que almas furiosas podiam causar desastres naturais, doenças ou até a morte de seus inimigos. Diferente dos fantasmas ocidentais, os Onryo não apenas assustam — eles punem. E o mais assustador: muitas vezes, não apenas o culpado sofre, mas todos à sua volta.
As origens sombrias dos espíritos vingativos
Uma das primeiras menções a um Onryo está nos registros do período Nara, com o espírito do príncipe Nagaya, que teria causado a morte de seus rivais após ser injustamente acusado e forçado ao suicídio. O medo desses espíritos se tornou tão grande que alguns foram até deificados — ou seja, transformados em divindades — para apaziguar sua fúria.
Entre os chamados “Três Grandes Onryo do Japão” estão figuras históricas como Taira no Masakado, cuja cabeça decapitada teria voltado voando até sua cidade natal, e Sugawara no Michizane, um político exilado que virou o deus do aprendizado após causar tempestades e mortes em Tóquio.
Ou seja, a lição é clara: no Japão antigo, mexer com a pessoa errada podia literalmente trazer o apocalipse. E esse feeling é traduzido no gameplay de Ghost of Yotei, com Atsu sendo uma guerreira letal com todos que cruzam seu caminho e não mostram gentileza.
O visual inconfundível de um Onryo e seus impactos reais
Mesmo quem nunca ouviu o termo já reconhece o visual clássico: cabelos longos e desgrenhados, pele pálida e roupas brancas, como as usadas em funerais japoneses.
Essa estética nasceu no teatro Kabuki, durante o período Edo, e acabou se tornando a imagem definitiva do terror japonês. Esse visual atravessou séculos e chegou até o cinema e os games.
De Sadako, em O Chamado, a Kayako, em O Grito, o arquétipo do Onryo virou sinônimo de medo. E agora, com Ghost of Yotei, esse símbolo ganha nova vida em um contexto histórico e emocional — o de uma mulher que, viva ou morta, não descansará até que a justiça seja feita.
Mesmo com o avanço da tecnologia e o distanciamento das crenças antigas, o medo e o fascínio pelos Onryo também continuam vivos no Japão moderno. Locais ligados a essas histórias, como o Túmulo de Taira no Masakado, ainda são tratados com respeito e cautela, pois dizem que qualquer tentativa de removê-lo traz tragédias.
Essa convivência entre respeito e medo é o que torna o folclore japonês tão fascinante — e é exatamente o tipo de atmosfera que Ghost of Yotei parece querer capturar. Um mundo onde o passado nunca morre de verdade, e onde até os mortos têm contas a acertar.
O Onryo em Ghost of Yotei
Em Ghost of Yotei, Atsu assume o papel do Onryo após ver sua família ser brutalmente assassinada pelos Seis de Yotei. Como dissemos antes, ela acaba assumindo este arquétipo após se tornar uma guerreira exímia e voltar para a região em busca de vingança.
O disfarce sobrenatural é mais do que uma tática — é uma metamorfose espiritual. Ela não luta apenas contra inimigos de carne e osso, mas contra a própria desumanização que a vingança provoca.
Assim como o Onryo tradicional, Atsu se alimenta do rancor, e o jogo parece explorar o limite entre vingança e perdição. Até que ponto a busca por justiça pode transformar alguém em algo irreconhecível? E será que, no fim, o maior inimigo de Atsu não será ela mesma?
Ainda estamos arranhando a superfícia de Ghost of Yotei, mas já podemos garantir que o peso da vingança é constante na história e no gameplay do jogo. A tendência é que, com o decorrer da jornada, esse sentimento se torne cada vez mais pesado.
A história dos Onryo sempre foi um espelho das emoções humanas levadas ao extremo — dor, traição, ciúme, desespero. São sentimentos que transcendem o tempo, e é justamente por isso que o mito continua tão forte.
Quando Ghost of Yotei traz esse conceito para o centro de sua narrativa, ele também resgata uma parte essencial da cultura japonesa: o medo de que o ódio, mesmo após a morte, nunca desapareça completamente.
Ghost of Yotei, o novo jogo do estúdio Sucker Punch, está disponível exclusivamente no PS5. Fique ligado no Jornal dos Jogos para conferir a análise completa do game em breve!
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