Demissões no Xbox mostram o grande problema da indústria de games
Entenda como a ganância de executivos movimentou bilhões para transformar a Microsoft em uma máquina de games, para depois simplesmente desmantelar tudo
Na última terça-feira (2), a Microsoft decidiu abrir o novo ano fiscal com um "presente" para milhares de funcionários: a porta da rua. Foram mais de 9 mil demissões, atingindo praticamente todos os cantos da empresa — e, claro, a divisão de games não escapou. Projetos foram cancelados, estúdios foram fechados, e quem acreditava no discurso de que "o Xbox é para todos" agora se pergunta se esse “todos” inclui os próprios desenvolvedores.
Entre os cortes, vimos o adeus definitivo de Everwild, da Rare, e o cancelamento do reboot de Perfect Dark junto com o fechamento da The Initiative — estúdio criado especialmente para dar vida ao projeto. Bethesda e outros estúdios da ZeniMax (que custaram a bagatela de US$ 7,5 bilhões em 2021) também sofreram cortes.
Até equipes da bem sucedida Activision Blizzard, adquirida por US$ 70 bilhões, não escaparam da paulada do CEO Satya Nadella. Enquanto Call of Duty vende igual cerveja barata em bar universitário e Candy Crush é um hit até com a terceira idade, ambas as propriedades foram afetadas com demissões.
Os cortes da Xbox não vieram por crise, e sim por escolha da Microsoft.
Mas talvez o que mais choca nessa história toda não são os cortes em si, e sim o contexto: a Microsoft fechou o trimestre de março com quase US$ 26 bilhões de lucro líquido, segundo a CNBC. E o próprio Phil Spencer admitiu que as demissões aconteceram no melhor momento da marca Xbox, que segue lucrando com a venda de jogos e com o crescimento do Game Pass.
Os cortes da Xbox não vieram por crise, e sim por escolha da Microsoft. Projetos como Perfect Dark e Everwild (e tantos outros não anunciados) foram de ralo porque alguém quis, e não porque precisavam morrer. E isso revela o que talvez seja o maior vilão da indústria dos games: a ganância mal gerida dos engravatados.
A raíz do problema da indústria de jogos
Nos últimos anos, a Microsoft embarcou em uma jornada de aquisições bilionárias com o entusiasmo de quem descobre o parcelamento sem juros. Comprou a ZeniMax, depois a Activision Blizzard, prometeu um universo de possibilidades no Game Pass, e agora está desmanchando tudo antes mesmo de cumprir metade do que foi prometido.
Tudo isso só aconteceu porque, lá na era do Xbox One, algum executivo bom de papo chegou para trabalhar em Redmond e convenceu o board da Microsoft que montar um oligopólio de games era como fazer um código de dinheiro infinito no GTA San Andreas. Essa ganância claramente levou a múltiplas aquisições que não foram pensadas além dos números inflados em uma planilha, e agora vemos milhares de desenvolvedores pagando o preço — e centenas de franquias promissoras sendo abandonadas nos porões da dona do Windows.
A ganância claramente levou a múltiplas aquisições que não foram pensadas além dos números inflados em uma planilha.
E o pior é que essa história não é só da Microsoft. A PlayStation, por exemplo, largou os jogos single player premiados por uma onda de títulos como serviço, liderada por Jim Ryan e suas ideias "visionárias" de agradar investidores. Resultado? Só Helldivers 2 deu certo — e talvez nem tanto assim, já que o game também chegará ao Xbox em 26 de agosto para conquistar mais público. O resto virou estatística de projeto cancelado, incluindo o colossal Concord.
Warner, EA, Ubisoft... todas seguiram o mesmo manual: projetos genéricos, pensados mais para agradar um time comercial do que para empolgar os jogadores. Resultado? Demissões, reestruturações e uma coleção de franquias esquecidas, tudo em nome do "foco nas grandes IPs" — que é o jeitinho corporativo de dizer "a gente vai lançar só o que der dinheiro garantido", deixando de lado a criatividade dos desenvolvedores.
Ainda dá pra acreditar na Microsoft?
Enquanto muitas gigantes dos games andam pisando na bola ultimamente, a diferença da Microsoft para as outras companhias é o tamanho da dissonância entre o discurso e a prática. Afinal, para muitos jogadores, a companhia é (ou era) a mais boazinha entre as grandes milionárias do setor.
Enquanto a Nintendo vive num mundo à parte com seus fãs e jogos de até R$ 500, a Sony já é conhecida pelas decisões duvidosas e aumentos de preço que nem fingem ser razoáveis. Ubisoft e EA, nem se fala: as companhias já viraram sinônimo de bug e ganância.
A Xbox sempre tentou vender a imagem de "nós estamos com vocês, jogadores".
Por outro lado, a Xbox sempre tentou vender a imagem de "nós estamos com vocês, jogadores". O Game Pass chegou como uma revolução no acesso aos games, a retrocompatibilidade agradou os mais nostálgicos, e as aquisições apontavam para um futuro com grandes franquias chegando direto na assinatura, sejam elas grandes ou não. Porém, assim como o estalar de dedos do Thanos, tudo começou a virar pó com o tempo.
No ano passado, do dia para a noite, a Microsoft começou a testar as águas e lançar alguns títulos menores para PS5 e Switch, como Hi-Fi Rush e Sea of Thieves, mas mergulhou de vez nessa tendência e já trouxe até Forza Horizon 5 para o console da Sony. Se alguém comprou um console da Xbox só pelos exclusivos, o arrependimento já pode ter batido.
O mesmo também vale para mudanças no próprio Game Pass. Um dos diferenciais do serviço era o lançamento de jogos Day One da Microsoft, algo que agora só está disponível na assinatura mais cara para quem possui um console Xbox.
Apesar de aumentar os preços e terceirizar cada vez mais sua produção de hardware com dispositivos como o ROG Ally, a Microsoft já confirmou que está fazendo uma nova geração de consoles para suceder o Xbox Series S e X. Porém, com todas as mudanças que ocorreram em cerca de um ano, como algum consumidor atual ainda vai ter segurança em adquirir o produto?
E pior: por que alguém que não usa um console Xbox vai comprar um produto da marca se a companhia está uma completa bagunça?
O problema não é só financeiro, é de confiança. E, pior ainda, de humanidade. Porque no fim do dia, enquanto executivos batem recordes de lucro e ações disparam, são desenvolvedores e jogadoras que pagam o preço por decisões mal planejadas e promessas vazias.
Toda essa reflexão e até mesmo a resposta negativa de jogadores vai mudar alguma coisa na Microsoft? Possivelmente não. Mesmo com a péssima recepção desse movimento da empresa, com certeza ainda veremos mais promessas vazias e “reestruturações” questionáveis de Phil Spencer e seus parceiros. Afinal, é assim que o capitalismo anda: a empresa trilionária precisa de mais uns trocados no bolso, mesmo que isso custe a sanidade mental de seus funcionários.
De Death Stranding 2 até Psychonauts, os jogos são uma forma incrível de contar histórias, divertir e levar o público para mundos inimagináveis. No entanto, semanas como essa nos lembram uma dura realidade: games também são produtos, e o seu mercado não é nada saudável.
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