Ghost of Yotei e a arte de fazer um jogo para PS5 — Review
Novo jogo da Sucker Punch aproveita recursos e hardware para entregar experiência ímpar no console.
Ghost of Yotei foi lançado pela Sony agora em outubro, mas a história de vingança de Atsu foi ofuscada por uma tempestade de polêmicas tão barulhentas quanto vazias. Se você acompanha influenciadores ou alguns sites de games, provavelmente viu algum vídeo inflamado ou thread no X (antigo Twitter) reclamando que o jogo seria “mais do mesmo”.
Em meio a tanto ruído, Ghost of Yotei acabou voando abaixo do radar de muita gente — e isso é uma injustiça das grandes. Mas, na prática, o que chegou às mãos dos jogadores é um dos títulos mais refinados e impressionantes do PS5 até agora.
O novo projeto da Sucker Punch não apenas mantém o legado de Ghost of Tsushima, como também o expande de maneiras ousadas, elegantes e, acima de tudo, emocionais. Além de entregar uma experiência primorosa do início ao fim, o game é um exemplo de como fazer um AAA moderno que realmente aproveita o hardware e os recursos do PS5.
Ficha técnica
Jogo: Ghost of Yōtei
Desenvolvedora: Sucker Punch Productions
Publicadora: PlayStation Studios
Lançamento: 2 de outubro de 2025
Onde jogar: PS5
Plataforma de teste: PS5 base
Preço: A partir de R$ 400
A seguir, contamos em detalhes como foi viver essa jornada com Atsu — e por que ela merece a sua atenção — seja agora ou no futuro — feita com uma cópia cedida pela Sony.
Uma história de vingança e luto
Os acertos de Ghost of Yōtei começam logo nas primeiras cenas, que entregam uma experiência cinematográfica de cair o queixo. O jogo eleva tudo o que vimos em Tsushima, mas com uma pegada mais íntima e dramática.
A história acompanha Atsu, uma guerreira que sobreviveu ao massacre de sua família e retorna à região natal para caçar os Seis de Yōtei, os responsáveis pela tragédia. Com seu manto escuro e olhar determinado, ela encarna o verdadeiro “espírito de vingança” — um arquétipo que mistura Kill Bill com os clássicos longas de samurai.
Mas Ghost of Yōtei vai além da sede por sangue. Mais do que a vingança, o roteiro mergulha fundo no luto, mostrando que viver após a perda é uma batalha tão árdua quanto qualquer duelo com katanas. Em certos momentos, Atsu é transportada a lembranças de sua infância, nos permitindo vivenciar o contraste entre a menina inocente e a guerreira endurecida que ela se tornou.
Se você já perdeu alguém importante, sabe: o luto é um sentimento que não vai embora fácil e, de vez em quando, surge do nada, e o jogo capta bem esse feeling. São momentos que cortam fundo, como uma flecha atravessando o silêncio, vindos de pequenas coisas cotidianas.
“Mais do que a vingança, o roteiro mergulha fundo no luto, mostrando que viver após a perda é uma batalha tão árdua quanto qualquer duelo com katanas.”
Narrativamente, Ghost of Yōtei não é uma continuação direta de Ghost of Tsushima, mas representa uma clara evolução no design e na mitologia criada pela Sucker Punch. Ambientado 300 anos após os eventos do primeiro jogo, o novo capítulo se passa no Japão rural do século XVII, onde acompanhamos uma protagonista que precisa equilibrar vingança, redenção e humanidade.
A história se desenrola conforme Atsu cruza as paisagens vivas e variadas da região de Ezo, caçando os fora-da-lei que destruíram sua vida há mais de uma década. No caminho, ela encontra aliados improváveis e situações que a forçam a repensar o que realmente significa viver — e morrer — com honra.
É uma narrativa madura, melancólica e visualmente deslumbrante, com ritmo exemplar e momentos que ficam gravados na memória. E enquanto a maneira “certa” seria jogar em japonês, o que deixa tudo bem dramático, o jogo traz uma boa dublagem em português, garantindo imersão na aventura.
Mundo aberto e gameplay
Se o luto e a vingança definem a história, o tema do gameplay é a liberdade. Joanna Wang, diretora de arte do game, definiu bem ao dizer que o “mundo de Yōtei é praticamente um personagem”, e isso é perceptível desde o primeiro instante em que você monta no cavalo e atravessa os campos de Ezo.
O mapa é vivo, dinâmico e instigante: inimigos surgem de forma orgânica, aldeões pedem ajuda, vendedores oferecem informações valiosas e ronins desonrados desafiam você a duelos memoráveis.
Tudo recompensa a curiosidade. Ghost of Yōtei te convida a desacelerar, a apreciar o som do vento e o brilho do sol filtrando pelas árvores — e, quando menos espera, você está completamente imerso em seu universo.
O combate continua sendo um dos pontos altos. Há diversidade de armas, estilos de luta e habilidades, tudo muito fluido e acessível graças a uma interface minimalista. O jogo também oferece múltiplos níveis de dificuldade, garantindo que tanto veteranos quanto novatos possam encontrar o ritmo ideal.
O caminho que Atsu percorre é moldado pelas suas escolhas. Treinar com mestres guerreiros desbloqueia novas armas e estilos, enquanto os Altares de Reflexão espalhados pela ilha permitem aprimorar habilidades e aprender técnicas específicas em uma skill tree.
Cada arma tem uma função, e saber quando trocar de katana para naginata, ou quando chamar sua loba de combate, faz toda a diferença. Felizmente, a interface como um todo é bem limpa, mas intuitiva, facilitando o uso de tudo no momento certo.
E mesmo nos momentos mais intensos, Ghost of Yōtei mantém um tom contemplativo. É um jogo que sabe dosar ação brutal e calma meditativa, com seções que parecem verdadeiras pinturas interativas. Você pode simplesmente cavalgar, pescar ou acender uma fogueira ao pôr do sol. É um raro equilíbrio entre brutalidade e beleza — um lembrete de que grandes jogos não precisam escolher entre espetáculo e alma.
Um exemplo a ser seguido no PS5
Do ponto de vista técnico, Ghost of Yōtei é praticamente um manual sobre como usar o PS5 ao máximo. Mesmo no console base, o game roda de forma fluida, com gráficos exuberantes e suporte a Ray Tracing.
Além disso, o uso do DualSense é, sem exageros, um dos melhores já feitos. Acender uma fogueira exige que você esfregue o touchpad para criar faíscas e sopre o microfone para atiçar o fogo, como mostrado neste vídeo aqui:

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Forjar uma lâmina envolve movimentos físicos com o controle, e segurar um alimento sobre o calor é feito usando o sensor de movimento. Os gatilhos adaptáveis simulam a tensão do arco, enquanto a vibração do controle transmite o impacto de cada golpe.
O som 3D também é outro destaque: o vento que guia o jogador pelas missões vem literalmente de dentro do controle, criando uma imersão que beira o poético. E para quem prefere algo mais tradicional, todos esses recursos “extras” podem ser desativados — uma decisão sábia da Sucker Punch, que entende que cada jogador vive o jogo à sua maneira.
Além disso, há um robusto conjunto de opções de acessibilidade e customização de HUD: indicadores visuais fora da tela, visibilidade ajustável do vento guia, câmeras dinâmicas e diversos modos de assistência. É um título que entende o público e respeita o tempo de cada jogador, algo raro em produções desse porte.
E os problemas?
Durante a minha jornada em Yotei, poucas coisas acabaram me incomodando, salvo alguns bugs e travadinhas do cavalo. Além disso, um ou outro bug de escalada também me deram um pouco de problema em terrenos mais altos, mas nada que me tirasse muito do mundo do game.
No entanto, eu claramente faço parte do público-alvo da PlayStation, com jogos single-player focados em narrativa e mundo aberto estando no meu cardápio com frequência. No entanto, se você já gostava de Tsushima, ou gosta da fórmula tradicional da Sony, com certeza vai se encontrar nos morros verdejantes de Ezo sem dores de cabeça.
Vale a pena?
Em um ano lotado de grandes lançamentos, Ghost of Yōtei foi o jogo que mais me surpreendeu. Fui jogar com o pé atrás, curioso pelas polêmicas, e em poucos minutos estava completamente rendida à sua beleza, ritmo e emoção.
“Yotei é um lembrete poderoso de que o essencial não precisa ser reinventado — apenas bem executado”
Belo, imersivo e tocante, o game é um lembrete poderoso de que o essencial não precisa ser reinventado — apenas bem executado. Enquanto outros AAA se perdem em grandiosidade vazia, a Sucker Punch mostra que o segredo está em aprimorar o que já era bom e fazê-lo com propósito.
Os R$ 400 podem parecer salgado, mas o valor é compensado por uma experiência completa, emocional e tecnicamente impecável. Ghost of Yōtei é, sem dúvida, um dos jogos mais inspirados e refinados já lançados no PS5 — e um exemplo de como usar o poder do console para contar histórias que realmente tocam o jogador.
Se você decidir esperar uma promoção, tudo bem, mas não ignore este título, principalmente se você comprar um PS5 no futuro e não souber por onde começar no console. E se você joga no PC, vale a pena rezar e esperar pelo lançamento na plataforma. Afinal, Atsu e sua história merecem um lugar no seu radar, e o passeio pelos pés do Monte Yotei, mesmo perigoso, vale cada segundo.