Compra da Warner pela Netflix pode ser péssima para os jogos, e a prova é o Game Pass
O Xbox Game Pass já nos mostra: precisamos ficar com medo dessa aquisição gigante de US$ 82 bilhões da Warner pela Netflix.
Além de roubar a atenção de muita gente com Stranger Things nas últimas semanas, a Netflix fez uma grande jogada no mercado corporativo na sexta-feira (4): a empresa anunciou a compra da Warner e a HBO em um negócio avaliado em mais de US$ 82 bilhões.
O namoro entre as gigantes já estava rolando faz um tempo, mas agora é oficial. A Big N do streaming vai comprar toda a estrutura da Warner, com exceção dos canais lineares, tipo CNN, e pretende fechar esse negócio em 2026 — se os órgãos regulatórios permitirem.
O pacote incluso nessa compra é generoso:
A Netflix será dona da HBO, a marca de TV mais prestigiada do mundo, e séries clássicas da televisão e streaming, desde Sopranos até Succession.
Todas as propriedades da DC, incluindo Batman e Superman, além de outras franquias clássicas, como Harry Potter, Ben 10, Friends e mais.
A estrutura de estúdios e cinema da Warner, o que inclui produções históricas que vão desde Interestelar até Mad Max.
A Warner Games, incluindo títulos icônicos como Hogwarts Legacy, Middle Earth (e o sistema nêmesis), o estúdio Rocksteady (Batman Arkham) e ninguém menos que a franquia Mortal Kombat.
O que a Netflix vai fazer com tudo isso?
Em teoria, a Netflix garante que vai manter o legado da Warner e da HBO vivo, mas fazendo algumas mudanças nos lançamentos de cinema para agilizar a distribuição de filmes no streaming. A ideia é clara: reforçar o serviço por assinatura que é marca registrada da companhia.
No segmento de games, tudo ainda é um mistério. A empresa mal comentou sobre o assunto, indicando que essa divisão é apenas um apêndice no mar de propriedades intelectuais da aquisição.
Enquanto toda a situação da indústria do cinema claramente merece atenção, a tendência é que as coisas não fiquem tão boas no mundo dos games também. Afinal, a Netflix não tem um histórico muito bom no setor, incluindo compras desastrosas, demissões e investimento em jogos mobile.
Ainda é cedo para dizer o que vai acontecer realmente, até porque a aquisição precisa ser liberada por órgãos regulatórios. No entanto, o prognóstico inicial é desanimador, e parte disso é por causa do Xbox Game Pass.
Aquisição pode cercear criatividade e aumentar preços de assinaturas
Em um mundo ideal, a aquisição da Warner pela Netflix poderia garantir um catálogo extenso no streaming não só de filmes e séries, mas também de games. Assim, quem assina a plataforma poderia ter acesso a diferentes conteúdos, com boa qualidade e preço justo.
A realidade, no entanto, pode ser mais cruel. A Microsoft adquiriu a Activision Blizzard por cerca de US$ 70 bilhões com a promessa de fortalecer o Xbox Game Pass. No entanto, a compra foi tão grande que a empresa acabou perdendo um pouco do controle da situação.
Call of Duty, uma das franquias adquiridas, é tão grande que acabou se tornando o centro das atenções do Xbox e mudando as estratégias da companhia, que está deixando de lançar títulos exclusivos para apostar em uma abordagem multiplataforma.
Neste ano, o Xbox Game Pass também dobrou de preço, além de ganhar mudanças polêmicas, como a chegada de grandes jogos no catálogo mais barato após uma longa janela de espera entre seis meses a um ano.
Franquias amadas que poderiam retornar após a aquisição foram engavetadas, estúdios foram fechados e centenas de funcionários perderam o emprego durante reestruturações.
Apesar de serem empresas bem diferentes, a aquisição bilionária da Netflix também pode trazer consequências graves não só para o mercado, mas para os usuários. O aumento no preço da assinatura, por exemplo, já pode ser considerado certo.
Usuário pode pagar a conta
Além de aumentar o catálogo consideravelmente e trazer mais filmes direto para o streaming, a Netflix terá que dar jeito de pagar as contas dessa aquisição. Para bancar os mais de US$ 70 bilhões da compra em dinheiro, a empresa teve que pegar um belo empréstimo, e essa conta precisará ser paga algum dia — e adivinha quem vai pagar? Nós, os assinantes.
A empresa também já deixou claro que seguirá investindo em grandes franquias do catálogo da Warner. O problema é que a companhia adquirida possui vários “Call of Duties”, como Game of Thrones e Harry Potter, por exemplo.
Conhecendo o estilo de produção descartável da Netflix e busca por retorno rápido, é bem possível que a empresa acabe, com o tempo, deixando de lado a criatividade para apostar cada vez mais “no que dá certo”. Com isso, do mesmo jeito que rola no streaming atualmente, teremos que lidar com 10 produções meia boca para receber uma boa.
Basta conferir o catálogo da Netflix para ver isso em prática. Enquanto a empresa tem o potencial de bancar histórias memoráveis, como Frankestein de Del Toro e a série Adolescência, o catálogo está repleto de produções com gosto de comida de micro-ondas e reciclagens de franquias consolidadas pela marca, como Stranger Things, que já tem um spin-off confirmado, e Round 6.
Não bastasse tudo isso, a Netflix também é conhecida por produzir para algoritmos, e não pela arte. Roteiristas já relataram que a empresa solicitou produções “otimizadas para a segunda tela”, onde diálogos precisam ser expositivos para tudo ser entendido mesmo se o expectador não prestar atenção.
No mundo dos games, essa estratégia se traduz em games feitos sob medida para partidas rápidas e experiências descartáveis. A série Stranger Things, por exemplo, ganhou dois jogos que simplesmente foram retirados de todas as lojas, e hoje vivem escondidos dentro do catálogo de games do streaming.
Com todo esse histórico, fica difícil acreditar que uma franquia de peso como Mortal Kombat, que já vem recebendo críticas da comunidade, pode ganhar um futuro jogo decente. No entanto, tudo isso é suposição.
Vamos torcer para os “pessimistas”, como a gente aqui no Jornal, estarem errados e, no fim das contas, vivermos na realidade em que Mortal Kombat 2 é um sucesso e traz Vecna como personagem convidado. No entanto, com o histórico que temos até agora, é bem possível que a situação fique tão insalubre quanto morar no Mundo Invertido.
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