Dying Light The Beast me fez ter medo do escuro - Review
Super-herói apocalíptico de dia, presa fácil durante a noite. Confira como é a experiência de jogar o novo título da Techland
Desde que nasceu há 10 anos, a franquia Dying Light voa abaixo do radar de muitos gamers, mas isso não significa que a série já não tenha ganhado seu espaço no mundo gamer. Prova disso é que Dying Light The Beast, o novo título da franquia, se tornou um dos mais desejados da Steam e alcançou mais de 1,5 milhões de cópias vendidas em poucos dias.
E todo esse sucesso tem fundamento: eu estou testando o game aqui no Jornal dos Jogos desde o lançamento e a experiência é bastante única. O game consegue misturar muito bem ação e tensão com o gameplay em primeira pessoa e uma narrativa interessante.
Além disso, para quem é velho de guerra da franquia, The Beast também consegue respeitar o crescente legado da saga. Mesmo não sendo oficialmente Dying Light 3, o título entrega uma experiência marcante para a saga.
Ficha Técnica
Jogo: Dying Light: The Beast
Lançamento: 18 de setembro de 2025
Onde jogar: PS5, Xbox Series X|S, PC
Plataforma de teste: Xbox Series S/X
Preço: A partir de R$ 249,90
Confira a review completa de Dying Light The Beast, feita no Xbox Series X, com uma cópia cedida pela Techland.
Afinal, o que é Dying Light The Beast?
Antes de mais nada, é importante trazer um pouco de contexto sobre o game. Dying Light The Beast se encaixa no que, ao meu ver, é uma das soluções mais interessantes para a crise atual do mercado de jogos.
Enquanto muitos estúdios AAA gastam anos e milhões de dólares para fazer um título que pode flopar e dar prejuízo, a Techland resolveu seguir outro caminho. A produtora estava trabalhando em uma expansão para Dying Light 2, mas o projeto claramente cresceu tanto que se tornou um spin-off completo.
Com isso, o jogo entrega uma experiência de jogo triplo A, aproveitando as tecnologias de seu antecessor, mas com uma nova história. E graças ao seu nascimento ligado a Dying Light 2, o jogo chegou de graça para quem tinha a versão Deluxe do título, e está à venda por preços partindo de R$ 249,90, o que é bem atraente num mundo de games a quase R$ 400.
A estratégia lembra movimentos adotados por empresas como a SEGA com a franquia Like a Dragon — um exemplo, inclusive, é Pirate Yakuza in Hawaii, que chegou este ano. O objetivo é simples: entregar algo novo e com mais história para os fãs, mas que não traz um salto geracional, garantindo um preço mais atraente.
Durante a minha experiência com o game, vejo que o plano deu certo. Além de ser um acalanto para os fãs de longa data de Dying Light, o novo título também serve como uma boa porta de entrada e não deixa a desejar, tanto em história quanto em gameplay.
O retorno de Kyle Crane, o Geralt de Rivia do mundo pós-apocalíptico
Treze anos depois de ser usado como cobaia pelo vilão Barão, Kyle Crane retorna transformado – e não só fisicamente. Não há mais o sobrevivente que víamos no primeiro jogo, mas sim um caçador movido por vingança.
Aqui, o game já mostra que está preparado para abraçar de vez a lore da franquia, mas também traz muitas novidades. Essa mudança de tom se reflete em toda a narrativa, que aposta em dilemas mais intensos e cinematográficos, sem medo de abraçar o drama.
A Techland foi esperta ao incluir uma recapitulação inicial, que ajuda novos jogadores a se situarem, mas o destaque mesmo fica para a dublagem. Tanto em inglês quanto em português, as vozes familiares trazem de volta a carga emocional que faz a dor e a fúria de Crane saltarem da tela.
Enquanto minha jornada com a franquia começou direto no segundo jogo, é muito fácil se apegar com Kyle logo de cara. Ele traz uma vibe de casca grossa, mas com bom coração, lembrando personagens clássicos como Geralt de Rivia.
Durante o meu gameplay, me peguei várias vezes fazendo paralelos com o clima de The Beast e a franquia The Witcher. Afinal, Kyle é um homem atormentado, que tem sentidos aguçados, se transforma em uma fera sobrehumana e, acima de tudo, quer ajudar pessoas em um mundo devastado — enquanto busca vingança, é claro.
Um mundo de dores no apocalipse
A narrativa, no geral, também não deixa a desejar. Em alguns momentos, senti que estava jogando um “The Last of Us com superpoderes”, já que a história está repleta de dilemas e traz escolhas que te colocam dentro da narrativa.
A Kyle já está cheia de dor e vingança, e isso serve de mote para a exploração em mundo aberto. Após os experimentos que o transformam em uma fera indomável, ele resolve buscar respostas e caçar o Barão.
Para isso, no entanto, ele precisa ajudar Olivia, outra sobrevivente que serve como uma “garota da cadeira” durante a jornada. A personagem traz leveza, conhecimento e missões, como capturar as temíveis Quimeras.
O drama, porém, não acaba nas missões principais. O jogo também conta com histórias extras com muitos dilemas pós-apocalípticos bem interessantes. Seja com sobreviventes perdidos ou comunidades tentando sobreviver.
Ao todo, você pode matar a história principal em cerca de 15 a 20 horas, mas dá pra tirar bastante proveito do mundo aberto do game em sua jornada.
Parkour, brutalidade e o novo Modo Fera
Quando o assunto é gameplay, o parkour segue como a marca registrada de Dying Light, mas desta vez expandido para cenários que vão além do urbano: florestas, cabanas e montanhas exigem movimentos mais verticais e criam um novo ritmo de exploração para o jogo.
O destaque, no entanto, é o Modo Fera, que transforma Crane em uma máquina de destruição. Essa mecânica equilibra brutalidade e estratégia: pode ser usada tanto como uma saída desesperada em combates tensos quanto como válvula de escape para quem quer se sentir invencível por alguns minutos.
A novidade vem com uma árvore de habilidade própria, que também acompanha as skills de pessoa “normal” do protagonista. Assim, o jogador pode escolher como quer aproveitar a nova mecânica, seja de maneira estratégica ou para confrontar monstros.
Mesmo com a transformação, o jogo também não deixa de lado o combate principal. As armas de fogo estão de volta, mas a munição é rara, o que mantém o foco no combate corpo a corpo visceral e no gerenciamento de stamina.
Como trata-se de um jogo em primeira pessoa, toda a movimentação rápida pode causar certo desconforto em quem não está acostumado com esse tipo de jogo. Por aqui, eu só tive problema em algumas partes da exploração, onde ficou difícil de visualizar certos saltos ou muitos elementos tamparam o campo de visão.
No entanto, no geral, o gameplay de Dying Light The Beast funciona bem dentro dos padrões da franquia, com tudo rodando direitinho no Xbox Series X.
Superman durante o dia, presa durante a noite
A dualidade dia de noite sempre foi central na franquia, mas em The Beast ela está mais intensa. Durante o dia, explorar o mapa e saquear recursos é uma aventura eletrizante, mas o relógio trabalha contra você.
Quando o sol se põe, a escuridão transforma o jogo em terror de sobrevivência puro. Nessas horas, as opções se reduzem a três: correr, se esconder ou enfrentar criaturas que não dão margem para erro.
Quando o sol se põe, a escuridão transforma o jogo em terror de sobrevivência puro.
Durante todo o meu gameplay de dia, principalmente evoluindo o modo fera, eu tomava atitudes cautelosas, mas me sentia o Superman. Afinal, algumas zumbis são lentos, você pode pular por cima deles para fugir ou descer a pancada para se defender.
Na noite de Dying Light The Beast, você é a presa. Os voláteis tornam cada passo em meio à escuridão um pesadelo e, dependendo do lugar em que você está, tudo se torna um filme de terror. Em um momento, por exemplo, me perdi na floresta enquanto olhos vermelhos me espreitavam. Tive que buscar abrigo como se fosse uma criança que se perdeu dos pais no hortifruti do supermercado.
Uma parte legal do game é que você pode acessar camas e dormir em pontos específicos. Assim, dá pra escapar da noite em muitos momentos, se você quiser.
Ambientação bela, terror sanguinário
De noite ou de dia, uma coisa é fato: Castor Woods, o local em que o game se passa, é cativante. O novo cenário é inspirado em regiões alpinas e entrega algo único dentro da franquia.
Florestas densas, pântanos sombrios e vilarejos abandonados criam uma atmosfera que mistura encanto e decadência. O mapa pode até ser menor do que Villedor, mas a densidade compensa: cada incursão traz descobertas interessantes.
E quando o sol se põe, o jogo assume de vez o tom de survival horror. As noites em Castor Woods são sufocantes, e as áreas abertas, dominadas pela escuridão, criam momentos que flertam com o terror puro.
A direção de arte também aposta em realismo, principalmente no gore. O sistema de desmembramento impressiona pelo detalhamento anatômico e coloca o jogo lado a lado com Dead Island 2, mas com um tom mais sério, menos cartunesco.
O game também traz uma trilha sonora caprichada, assinada por Olivier Derivière. O game inclui músicas com um tom pesado, quase opressivo, amplificando a sensação de perigo constante.
Para não dizer que tudo está perfeito, existem alguns tropeços. Alguns assets podem aparecer serrilhados ou texturas com baixa qualidade, como se você aproxima muito a imagem do chão em alguns locais. No entanto, nada que realmente comprometa a experiência.
Experiência no Xbox Series X
Como se trata de um spin-off de Dying Light 2, o novo jogo da Techland não tenta reinventar a roda, mas traz uma experiência bem satisfatória e dentro do esperado no Xbox Series X. Tirando problemas que mencionei acima, deu pra jogar de boas no modo performance e também no desempenho.
Além disso, Dying Light The Beast se aproveita bem do ecossistema Xbox. Apesar de não ter compra dupla no PC e console, o jogo suporta gameplay via nuvem. Ou seja, você pode rodá-lo via cloud quando está longe do console, seja no celular, computador ou televisão compatível.
O título também conta com suporte para o Quick Resume, a tecnologia do Xbox que permite voltar direto para o gameplay a qualquer momento. Por aqui, eu só vi os créditos iniciais do jogo duas vezes, e isso só ocorreu porque abri o game em outra plataforma para testar o uso em nuvem, desde que você tenha Game Pass Ultimate.
Por fim, vale ressaltar que The Beast também traz um modo cooperativo para até quatro jogadores. No entanto, diferente do computador, é necessário ter uma assinatura Game Pass Core ou Ultimate para conseguir acessar os recursos online.
Vale a pena?
Seja fã da franquia ou um novato em busca de histórias de zumbi, Dying Light: The Beast é uma ótima pedida. Em seu novo game, a Techland acerta ao equilibrar vulnerabilidade e poder, dando ao jogador poderes para ser um herói de dia, e motivos para temer a noite.
Para fãs da franquia, é um capítulo obrigatório para saber como anda Kyle Crane. Para novos jogadores, é uma porta de entrada eficiente, já traz uma recapitulação cheia de contexto e uma história que funciona de forma independente.
O jogo pode não ter o escopo gigante de outros títulos, mas compensa com intensidade e atmosfera, bem como um preço mais baixo, dependendo da plataforma. No Xbox, ainda temos recursos extras como suporte para nuvem, o que ajuda a compensar o valor.
The Beast pode não ter o escopo gigante de outros títulos, mas compensa com intensidade e atmosfera.
A campanha mais curta pode ser um ofensor para quem curte jogos mais lotados de conteúdo, mas a duração não incomodou por aqui — se esse é o seu caso, vale deixar na lista de desejos e aguardar uma promoção. Além disso, vale avisar que a movimentação intensa em primeira pessoa pode gerar tontura, mas dá pra evitar isso cadenciando as sessões de jogo.
Se você está ciente disso, Dying Light The Beast pode ser um salto de fé que vale a pena. Mas já fica o aviso: talvez você sinta vontade de dormir com as luzes acesas.